Espiritualidade Autêntica

"Escolheu doze dentre eles para ficarem em sua companhia e para enviá-los a pregar."
(Mc 3.14 - Vozes)

A Bíblia conta a história de amor de um Deus que anseia por se relacionar de modo verdadeiro e completo com o ser que criou. A maior prova desse amor foi a encarnação. Nesse evento, o Deus Filho fez-se um de nós. Amou tanto que se esvaziou (Fp 2.5-8); viveu cercado de gente, relacionando-se intimamente com alguns. O discípulo amado pode se aconchegar a ele (Jo 13.23).

O versículo destacado nos mostra esse desejo de Jesus por um relacionamento mais íntimo, mas pessoal com os seus. A epígrafe nos diz que ele fez uma escolha, e essa escolha tinha um propósito: que os chamados ficassem em sua companhia, pois esse é o desejo de Jesus e nisso está a espiritualidade autêntica: em que nos relacionemos, de modo afetivo, amoroso com o nosso Deus. O nosso desígnio é estar com o Senhor!

O chamado do Mestre é de comunhão e serviço. Somente pode sair para pregar quem antes esteve com Jesus. O pregar é uma conseqüência de ter estado com o Senhor. É esse estar com ele que nos capacita a ir por todo o mundo pregando o evangelho, porque o evangelho é a boa nova de que é possível um relacionamento de amor com Deus, e a autenticidade da proclamação está em que aquele que prega deve ter vivido também esse tipo de relacionamento.

Quem ama tem prazer em estar com o amado, e não há maior prova de espiritualidade do que o prazer de estar com Deus. Somente estar com ele, mais nada. Estar, como um casal que se ama e a simples presença do outro aquece o coração apaixonado. Palavras não são necessárias, só presença e alegria.

Tomás de Kempis em seu livro, "A Imitação de Cristo", nos diz: "Guarda-te de falar muito, recolhe-te a algum lugar retirado, e alegra-te em teu Deus." Nesta recomendação estão contidas as disciplinas espirituais do silêncio, da solitude e da celebração. Ficar em silêncio diante de Deus muitas vezes revela mais intimidade do que longas orações; solitude, por sua vez, é um estado da mente e do coração capaz de, em meio ao ruído e a confusão, nos levar a encontrar calma num profundo silêncio interior; e a celebração é o regozijar-se por saber que, quando nos aquietamos, podemos ouvir a voz de Deus.

A espiritualidade autêntica não está na demonstração de poder, mas antes no relacionamento de amor, e isto me faz lembrar o que certa vez ouvi do Pr. Ricardo Gondim: "A proposta de uma religiosidade que transforma pedra em pão não é de Jesus, é do Diabo." A igreja que deseja sair da superficialidade, que quer ser relevante, deve procurar, não um relacionamento utilitarista, mas sim um de amor com o seu Deus.

(Para o boletim da PIBSG de 19/11/2006)

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